segunda-feira, 6 de outubro de 2014

nova caminhada ou novo rumo pro-vida? prossegue o debate

6 outubro - réplica de Luís Botelho a José Maria Seabra Duque (coordenador-geral da Caminhada Pela Vida 2014)


Meu caro,

Bom dia. O que escrevi está escrito e exprime o que penso com lealdade e verdade. Não pretendia ser um ataque. Muito menos "mesquinho".

Quando o meu amigo, depois da excelente resposta / bênção do P.e Nuno, ainda hoje (dia 6) me escreve «De facto o Luís, tal como o Padre Nuno, estão tão certo da vossa pureza ideológica que não são capazes de trabalhar com ninguém sobre este assunto» verifico que continua a não conseguir exprimir um pensamento sem classificar os seus interlocutores -  o que é pena.

Se ler o que eu escrevi, não é na Isilda que não tenho confiança, mas sim no caminho que ela preconiza: «Parece-me - há muito! - completamente esgotado o caminho de "mudança por dentro" dos [...] maiores partidos».

Quanto ao resto, se ficaram dúvidas, deixe-me explicitar o que penso:

1. concedo da melhor vontade que a Direcção da FPPV e a Isilda Pegado acreditem sinceramente poder mudar alguma coisa regressando à bancada parlamentar do PSD;

2. se for o caso, é perfeitamente legítimo que a Isilda Pegado deseje voltar ao parlamento;

3. da sua presença no parlamento poderão eventualmente resultar coisas boas para a Causa, embora de âmbito limitado;

Porém,

4. penso que a sua presença nas listas do PSD em 2015 será sempre muito mais fraca politicamente do que foi entre 2002 e 2005, no rescaldo de um referendo vitorioso, e à frente de um movimento social pujante;

5. penso que o PSD hoje encararia essa inclusão como um "favor" ao movimento pro-vida, retirando-lhe toda a capacidade de intervenção transformadora autónoma (é disto que falamos qd nos referimos a "hipotecar o movimento")

6. considero que é por demais eloquente a falta de qualquer mudança pela maioria absoluta PSD - CDS das leis que enquadram o aborto em Portugal; teria sido politicamente «fácil» introduzir as "taxas moderadoras" para o aborto, na medida em que qualquer doente oncológico à partida tb as paga na íntegra. Se não foram "fiéis no pouco" como hão-de sê-lo "no muito", estes partidos que se dizem representantes das "correntes conservadoras" da sociedade portuguesa?

7. se, pelo acima exposto, resulta para nós evidente que a "iniciativa de cidadãos" da FPPV não tem condições para produzir os apetecíveis mas inacessíveis frutos enunciados, como não havemos nós - seres eminentemente pensantes - de pensar que os seus promotores têm afinal outros e menos irrealistas objectivos (embora não explicitados)?... Objectivos como o de pelo menos conseguir "uns lugarzitos" nas listas do PSD? Note que, ao fazer este raciocínio, ao contrário de atacar, prestamos homenagem ao sentido de realismo da Isilda e da FPPV. Preferia que, acreditando com a FPPV na aprovação próxima - ainda nesta legislatura - e verdadeiramente milagrosa das 10 medidas (alíneas a) a j) do memorando publicado em http://caminhadapelavida.org) pela actual maioria absoluta, acabassemos todos por nos ver finalmente unidos... na garupa de um colossal Rocinante?


Termino. Quero agradecer-lhe, enfim, a possibilidade que nos proporciona de alinhar algumas ideias e esboçar um princípio de debate tão necessário a uma reformulação de um caminho pro-Vida que terá tudo a ganhar em ser percorrido com o grupo unido... e tudo a perder em ser liderado da forma autocrática como tem sido pela FPPV e Isilda Pegado, com a infeliz cobertura de certas instituições e autoridades - que nomeei no meu texto - as quais, em meu humilde entender, melhor fariam em convidar para a mesa do mesa todos os movimentos interessados: associações, partidos, activistas. Bem sei que a lógica hierárquica é um estilo e um hábito - e com que força! - mas suspeito que não seria tanto assim na Igreja Primitiva de que nos falam os "Acto dos Apóstolos". Por me parecer útil ao conjunto do movimento e, no fundo, estarmos a discutir ideias e diferentes opções para a causa comum, julgo que compreenderá a nossa opção de, à semelhança do que fez no blogue "Samurais de Cristo", publicar também nós em blogue (http://daconcepcaoamortenatural.blogspot.pt/) este debate que, reafirmo, não é senão um confronto de ideias.

Saudações pro-Vida,
Luís Botelho


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6 outubro - réplica de José Maria Seabra Duque


Bom dia,

pelas coisas mais básicas não terem sido feitas pela maioria é que fazemos esta Iniciativa Legistiva. Exactamento para forçar uma acção.

Nós não nos hipotecamos a nenhuma partido. Convidamos para falar na Caminhada políticos que são contra o aborto para lhes dar força, precisamente pq nos seus partidos essa posição (de ser contra o aborto) os deixa muitas vezes isolados.

Se o Luís prefere ver, no apoio a politicos pró-vida, uma qualquer conspiração nossa para hipotecar ao PSD, é livre de o fazer. Mas depois, quando olha para a FPV e para a Isilda com essa desconfiança, escusa de falar em unidade. Porque a unidade não pode partir de quem não tem a mínima cofiança no outro, como o Luís parece não ter.

De facto o Luís, tal como o Padre Nuno, estão tão certo da vossa pureza ideológica que não são capazes de trabalhar com ninguém sobre este assunto, porque consideram que todos os outros não suficientemente puros!

Por fim, obviamente que o seu mail foi um ataque e foi feito de maneira mesquinha. Fala de unidade, enquanto, publicamente (quando podia perfeitamente só ter escrito ao padre Nuno, ou só à Isilda e ao António) destila teorias de conspiração sobre a presidente da FPV.

Como lhe disse, a resposta foi dada sábado nas ruas de Lisboa. Basta ir ver as fotografias e os vídeos disponiveis!

Com os melhores cumprimentos,

José Maria Seabra Duque


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4 outubro - réplica de Luís Botelho

Caro José Maria Seabra Duque,

Boa tarde.
Escrevi o que penso - na sequência do que li ao P.e Nuno. Não se trata de um ataque mas de um apoio ao que ele percebeu e me escapara da vossa "iniciativa legislativa". É evidente que a iniciativa não nos hipoteca ao PCP mas sim ao PSD, como é óbvio. Os elementos da CDU e do PS só lá aparecem para "compor o ramalhete".

Não posso perder nem quero fazer-lhe perder tempo  - especialmente hoje. Mas o que lhe digo é que nada de sério se pode pensar fazer com este PSD quando ao fim de 3 anos de maioria absoluta:

- nem sequer introduziram "taxas moderadoras" para o aborto;    para tratar a minha leucemia, pelo contrário, eu pago!

- as mulheres que fazem aborto ocntinuam a ter direito a um mês de "baixa"; para mim, acabado de terminar o 2º ciclo de quimioterapia (tive alta na passada 5ª feira), deixou de ser possível (desde a ultima 4º feira) aos meus médicos passarem-me uma "baixa", pelo que, parece que me terei de apresentar ao serviço na próxima 2ª feira, enquanto não me chamam para o 3º ciclo...


Como posso encarar com seriedade tudo aquilo que a "Iniciativa legislativa" da Isilda reclama quando, até agora, nem as coisas bem mais simples foram concedidas pela maioria absoluta PSD - CDS? É tudo retórica, meu caro, eventualmente para colocar a Isilda nas listas de candidatura do PSD, mas para nos "calar" ou, como escreveu o P.e Nuno, para nos "hipotecar" ao PSD.

A nossa causa, porém, é grande demais para nos permitir isso. E só um referendo nacional lhe pode proporcionar algum avanço real. Nos "passos perdidos" de S. Bento, "integrados", ""enquadrados" ou "hipotecados" nos grupos parlamentares do PSD ou do CDS (encabeçados por maçons, como se sabe) nada de relevante nos será jamais concedido. Oxalá me enganasse...

Com os melhores cumprimentos,
Luis Botelho