Certo de que há muitas formas de sujar as mãos fora da política e algumas formas haverá também de fazer política mantendo-as limpas, penso que aquela entrevista não "será um recado para nós" por três razões:
- porque a promoção de um referendo pro Vida não se insere naquilo a que se costuma chamar o "jogo da política directa", o jogo político-partidário. Ora esta iniciativa é supra-partidária e aconfessional, apelando ao apoio dos líderes de diferentes confissões religiosas e, sobretudo, a todos os homens de boa vontade. Trata-se, simplesmente, de usar legítimos mecanismos de cidadania para promover o Bem Comum, a salvação de Vidas Humanas que as leis do Estado português hoje desconsideram;
- porque se a nossa iniciativa, que não faz mais do que corresponder a um sinal de abertura deixado por Pedro Passos Coelho aos microfones da Renascença durante a última campanha eleitoral, desagradasse a Sua Eminência, D. José Policarpo já a teria condenado publicamente e convidado a afastar-se dela os católicos de Lisboa que também a integram. Bem pelo contrário, vários bispos católicos, membros da Conferência Episcopal Portuguesa a que D. José Policarpo preside, têm-nos manifestado o seu sincero apoio e encorajamento;
- porque, finalmente, é muito clara a Doutrina Social da Igreja quando convida os cristãos - que sintam essa vocação - a envolver-se construtivamente no terreno da política ao serviço do Bem Comum. Não o fazer, tendo alguns talentos para pôr a render nesse terreno da política a que Bento XVI não hesitou em chamar de "eminente forma de caridade*", tornar-nos-ia merecedores da reprimenda da parábola de Jesus sobre o servo que, com medo da severidade do seu amo, foi esconder o talento na terra (Mateus 25:14-30): «Servo mau e preguiçoso!»
Há, pois, boas razões para continuar a aguardar uma declaração explícita da Conferência Episcopal Portuguesa e do Patriarcado de Lisboa, onde já em Julho deu entrada a "carta aos líderes religiosos", sobre a oportunidade e necessidade urgente de correspondermos à abertura manifestada pelo Senhor Primeiro-Ministro no sentido de se realizar um referendo nacional de iniciativa popular - o primeiro - do qual a inviolabilidade da Vida Humana possa sair triunfante.
Luís Botelho Ribeiro
Guimarães, 27 de Setembro de 2011
* in http://www.zenit.org/article-12675?l=portuguese, «o Papa quis «recordar que uma eminente forma de caridade é a atividade política vivida como serviço à polis, à “coisa pública”, na perspectiva do bem comum»»
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=32011
D. José Policarpo
Bispos devem ficar fora do jogo da política
Em entrevista ao Jornal de Notícias, D. José Policarpo afirma que a Igreja não se deve envolver no jogo político até porquê, diz o Cardeal, ninguém sai de mãos limpas.
A política não é para Bispos. A posição assumida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.
Em entrevista ao Jornal de Notícias, D. José Policarpo afirma que a Igreja não se deve envolver no jogo político até porquê, diz o Cardeal, ninguém sai de mãos limpas.
“Nós Bispos no Ocidente, e penso bem, até bastante conduzidos pelo magistério dos Papas, o nosso ministério é de uma natureza que pode ficar prejudicado se nós nos metermos na política directa como ela é feita hoje. Ninguém sai de lá com as mãos limpas. Portanto, nós fugimos disso”, disse o Cardeal.
D. José Policarpo lembrou ainda que “há realmente uma pré-política, que é a doutrina da Igreja e do evangelho, que são todas as realidades humanas”.