domingo, 23 de setembro de 2012

devolvam-nos as nossas... VIDAS?

Era este um dos slogans mais gritados e afixados nos cartazes, avenida abaixo,  avenida acima: «devolvam-nos as nossas vidas»*.

Ainda antes de a CGTP ter descoberto o filão dos seis mil milhões de euros que prometem resolver todos os nossos problemas imediatos, a angústia que se apossou de todo um povo resumia-se naquele apelo. Mas porquê aquele e não outro? Podiam ter escrito «devolvam-nos o nosso dinheiro», «o nosso futuro», «a nossa esperança»... tanta coisa.

Mas não, são "as nossas vidas" aquilo que queremos de volta e por duas razões. Primeiro porque, no íntimo sabemos todos que perdida a Vida, tudo está perdido. E, em segundo lugar, porque sentimos que as nossas vidas ainda nos podem ser devolvidas, independentemente de nos terem sido roubadas por aqueles a quem dirigimos o apelo... ou por outrem, quiçá refugiado em Paris.

Mas há uma terceira razão, subliminar, para a escolha deste apelo e não outro. É que por nossas próprias mãos, isto é, com o dinheiro que entregamos ao Estado, foram sacrificadas já quase 100.000 vidas (completam-se já no início de Novembro) que jamais poderão ser devolvidas aos seus titulares. Foram interrompidas... e, ou contrário de outras interrupções, não podem ser reactivadas. Nem devolvidas. Talvez por isso, havia também uns cartazes a falar de "Injustiça". Os cartazes, no fundo, gritam aquilo que nos enche o coração... e o remorso.

Ex abundantia cordis os loquitur.

Luís Botelho

* http://opaisdoburro.blogspot.pt/2012/09/devolvam-nos-as-nossas-vidas.html