Era este um dos slogans mais gritados e afixados nos cartazes,
avenida abaixo, avenida acima: «devolvam-nos
as nossas vidas»*.
Ainda antes de a CGTP ter descoberto o filão dos seis mil milhões de
euros que prometem resolver todos os nossos problemas imediatos, a
angústia que se apossou de todo um povo resumia-se naquele apelo.
Mas porquê aquele e não outro? Podiam ter escrito «devolvam-nos o
nosso dinheiro», «o nosso futuro», «a nossa esperança»... tanta
coisa.
Mas não, são "as nossas vidas" aquilo que queremos de volta e por
duas razões. Primeiro porque, no íntimo sabemos todos que perdida a
Vida, tudo está perdido. E, em segundo lugar, porque sentimos que as
nossas vidas ainda nos podem ser devolvidas, independentemente de
nos terem sido roubadas por aqueles a quem dirigimos o apelo... ou
por outrem, quiçá refugiado em Paris.
Mas há uma terceira razão, subliminar, para a escolha deste apelo e
não outro. É que por nossas próprias mãos, isto é, com o dinheiro
que entregamos ao Estado, foram sacrificadas já quase 100.000 vidas
(completam-se já no início de Novembro) que jamais poderão ser
devolvidas aos seus titulares. Foram interrompidas... e, ou
contrário de outras interrupções, não podem ser reactivadas. Nem
devolvidas. Talvez por isso, havia também uns cartazes a falar de
"Injustiça". Os cartazes, no fundo, gritam aquilo que nos enche o
coração... e o remorso.
Ex abundantia cordis os loquitur.
Luís Botelho
* http://opaisdoburro.blogspot.pt/2012/09/devolvam-nos-as-nossas-vidas.html