Excelentíssimos Senhores Deputados,
Está marcado para o próximo dia 20 de Janeiro o debate e votação sobre as Barrigas de Aluguer.
Está marcado para o próximo dia 20 de Janeiro o debate e votação sobre as Barrigas de Aluguer.
Não  se pode ignorar o facto de esta matéria não ter sido votada pela  maioria dos portugueses uma vez que a mesma não consta em qualquer dos  programas eleitorais dos três maiores partidos com representação  parlamentar (PSD, PS e CDS/PP). Igualmente grave: ao que parece, nenhum  dos partidos com representação parlamentar propôs que esta questão fosse  sujeita a referendo, assumindo os 230 deputados a responsabilidade de  uma decisão de consciência que afectará não apenas os mais de dez  milhões de Portugueses como também todas as gerações vindouras.
Por  outro lado, o PSD e o CDS/PP prometeram em campanha eleitoral  apresentar um pacote de medidas de apoio à natalidade. Algumas das  maiores barreiras com que se confrontam os jovens casais que pretendem  constituir família são essencialmente constrangimentos financeiros ou  condicionalismos laborais. Mais grave do que aprovar uma lei para a  qual a ciência e a sociedade não estão preparadas é o facto de se estar,  mais uma vez, a não criar soluções para os problemas reais da  natalidade em Portugal.
A  ciência cada vez mais afirma que a formação do vínculo mãe-bebé é  essencial para o desenvolvimento da criança a nível metabólico,  epigenético e psicológico. Este vínculo é bem físico e fácil de  compreender: o cordão umbilical! Graças ao cordão umbilical, durante 9  meses o bebé sobrevive sendo nutrido a partir deste. No entanto, é  também através deste cordão umbilical que várias doenças como a Hepatite  B e o VIH (este vírus só se manifesta 6 meses após o seu contágio e  causa a SIDA) podem ser transmitidas ao bebé.
Senhores  Deputados, será justo que a intimidade profunda criada entre a mãe e a  criança durante esses nove meses seja aniquilada por um contrato?  Senhores Deputados, será justo criarmos um novo tipo de negócio em que a  mercadoria são crianças? Mesmo que seja um contrato não remunerado, não  deixa de ser um contrato: criamos a ambiguidade entre a criança sujeito  e a criança objecto. Senhores Deputados, será justo tornarmos a  gravidez num período neutro e impessoal? A única forma de aprovar uma  lei destas seria considerar que a gravidez não tem efeito no futuro da  criança e tomar como definitiva a ideia de que o útero é uma simples  incubadora.
A  mãe da barriga de aluguer, bem como a sua família, serão sujeitas a  riscos físicos e psicológicos através desta mercantilização do seu  corpo. Caso a mãe da barriga de aluguer já tenha os seus próprios  filhos, como conseguirá integrar na concepção destes a ideia de que o  bebé que está na sua barriga não foi concebido através do pai nem será  seu irmão ou irmã? Como explicar-lhes que no final dos nove meses será  dado a outra família? Isto, quando não se formar um sentimento  de maternidade de tal modo grande que a mãe de substituição se recuse a  entregar a criança.
Senhores Deputados e se a mãe portadora do bebé decidir que quer abortar? Neste caso, o que será do casal que espera o filho?  E se o casal abdicar da vontade de ter o bebé seja por divórcio,  situação económica, mal-formação, morte ou por outra razão qualquer?  Qual será o destino desta criança? A lei não pode remediar uns  sofrimentos na iminência de causar novos sofrimentos. É indiscutível a  legitimidade e o amor generoso dos casais que ambicionam ter um filho  mesmo em condições em que por motivo de saúde tal não seja possível.  Porém, essa vontade não equaciona os riscos físicos e emocionais  subjacentes ao recurso à maternidade de substituição.
Compete aos legisladores por excelência a difícil responsabilidade de decidir em função da ciência e da ética de modo a não  colocar em risco os cidadãos que representam. A lei não pode organizar a  concepção de uma criança a qualquer preço. Visto que o preço será  suportado pela criança em si. O desejo de ter uma criança não é sinónimo  de ter direito a ter uma criança.
Senhores  Deputados, vossas excelências têm a certeza ABSOLUTA que o vosso voto  está de acordo com o sentimento e a vontade dos Portugueses que vos  elegeram como seus dignos representantes para a Casa da Democracia  Portuguesa?
Os meus melhores cumprimentos. Peço-lhes que, em minha representação Votem Contra.
David Luiz Gomes de Castro Pernas
 

 
